"Nota máxima para tão brilhante quão patriótico desabafo" é um dos comentários feitos a esta magnífica peça do Dragão, que não resisti a postar na íntegra, tal é a qualidade do texto. Para quem gostar do estilo, há mais por aqui, embora por vezes as verdades se tornem incómodas, pois dizem directamente respeito a todos nós, portugueses.
Há uma diferença entre as Forças Armadas (e
todos aqueles que passaram pelas fileiras) e o resto da população civil, dos
doutorecos às madames-a-dias: é que aqueles, ao contrário destes, juraram a
bandeira, juraram defender a soberania nacional e, se necessário, dar a vida
pela pátria dos seus filhos e dos seus antepassados. Portanto quando sabotam,
quando colaboram, quando desertam do seu dever, a infâmia da cobardia diante do
inimigo é agravada da ignomínia da traição e do estigma do perjúrio. Por alturas
de 74 ainda existia, e justamente, a pena de morte na lei portuguesa: no código
de Justiça Militar. Pelo crime de Alta-Traição. Claro que foi imediatamente
abolida. Afinal, a alta-traição tornava-se a ocupação principal da oficialada em
obediência doravante, como lapidarmente timbrou António José saraiva, às
vísceras e não à bandeira. A Alta, a Baixa, a Média e todas quantas estivessem
ao dispor da conveniência do momento e do capricho peludo.
Escutam-se histórias verídicas de timorenses
exilados na Austrália, após a invasão Indonésia, que respeitavam a bandeira
portuguesa hasteada à porta das suas casas ao ponto de não pisarem a sua sombra.
Se a possuissem, os militares portugueses, deviam experimentar o zénite da
vergonha perante esta gente longínqua mas digna. No tempo e na história. Porque
a verdade é que a desonra duma bandeira é tanto maior quando é canibalmente
perpretada por aqueles que juraram defendê-la. Mas pedir vergonha a quem abjurou
a honra é pedir água a um penedo.
Não compete às Forças Armadas servir Governos -
compete a ambos, Forças Armas e Governo servir a Pátria, nesta se consolidando
os vivos e os mortos; o presente, o passado e o futuro. Mas o que aconteceu
nestes últimos anos foi a perversão mais rasteira e desprezível disso: foi as
Forças armadas e os Governos, em regime de necrófagos, a servirem-se do corpo
mutilado, exangue e prostituído da Pátria.
Proclamam agora, em repenicado assomo
corporativo, que as Forças Armadas não servem o governo, mas a Soberania
Nacional. A última vez que arvoraram assomos destes, varreram, duma assentada, o
governo e a Soberania. Agora, se varrerem, varrem o quê? Governo não se avista,
apenas desgoverno recalcitrante e revezado; Soberania também não; por
conseguinte as Forças Armadas, das duas uma: ou se varrem a si próprias, e não
será pouca a mancha conspurcante que varrem (e a valente poupança prós
contribuintes); ou varrem coisa nenhuma, que é a soma exacta do desgoverno e da
suja subserviência financeira actuais.
Situação absurda e atroz? Sem dúvida. E de quem
a principal responsabilidade por este sórdido desenlace? De quem, em primeira
instância, o desencadeou: as Forças Armadas, nem mais.
Quem escreve estas duras linhas é um fascista,
um retrógado? Fascista é essa estupidez que vos oprime! Fascista, mesmo, é essa
cobardia que vos tolhe e despotiza! Fascista, absolutamente fascista, é essa
irresponsabilidade soberaníssima, essa frivolidade venal, esse bandulho cruel
que vos arrastam e escravizam! E retrógado é quem recambia um país de oitocentos
anos ao caos, à balbúrdia, ao neo-feudalismo, ao tribalismo sectário, à
partidarite devorista e, por fim, à insolvência e à esmola internacional.
Mas já que ostentam a soberania Nacional deviam
então saber que a nação está acima de regimes, governos e partidos. E que a
patrulha dessa fronteira, a defesa desse imperativo competiam às Forças Armadas.
Não, exactamente, dando tiros, mas exercendo a firmeza e influência que evitam
esses extremos, tanto quanto golpadas e revolucinhas. Mas que portentos nobres e
elevados desarrincaram as Força armadas, no seu momento MFA? Apearam um mau
governo e instalaram o governo nenhum, logo seguido do desgoverno crónico. A
título da descolonização, a debandanda pusilânime e criminosa. A título de
democracia, umas ditadurazinhas a prazo, uma Desunião nacional aos molhos e aos
votos, uma demofagia sectóide, um neofeudalismo insaciável! De tal modo que em
vez do tão vituperado colonialismo imperial, passámos ao neo-colonialismo
doméstico. A título de desenvolvcimento, betão e asfalto, shoppings e
telenovelas, publicidade e propaganda, extermínio da indústria, da agricultura,
das pescas, exportação desenfreada de Dívida e, para condecoração na história,
três bancarrotas exuberantes, a últimas das quais e presente, anunciadora da
extinção, pura e simples, do país, sem honra, sem dignidade, sem coluna, sem
independência e sem moeda.
Nestes últimos trinta anos a Soberania foi
esquartejada, pesada e vendida a retalho como numa loja de secos e molhados.
Tudo à revelia do próprio povo - inimputável encartado fora as periódicas,
inócuas e cada vez mais despovoadas peregrinaçãos fúnebres (às urnas); pior, à
revelia do próprio Interesee Nacional e do Futuro das gerações. E o que fizeram
as Forças Armadas nesse tempo todo? Assistiram zombificadas ao comércio.
Coadjuvaram pachorrentamnte nos fretes. Serviram a Pátria? Não; serviram de moço
de mercearia. Viajaram pelo mundo, do Kosovo ao Afganistão, a entregar cestos de
enlatados anglo-saxónicos e, tão pouco, bacalhaus: hamburgueres, hot-dogs,
pizzas!... Fugiram da defesa do Império Português para descambarem em cipaios do
Império Americano. E nem sequer necessários, apenas folclóricos!...
Pelo que agora aflige-vos o quê? O beco sem
saída da vossa insustabilidade? Mas aonde julgáveis que conduzia a alameda
festiva da vossa inconsequência, da vossa impostura e da vossa deserção - ao
parque de diversões da sempiterna vida fácil?
Acordais, finalmente? Retirais a cabeça
avestruza do buraco maravilhoso, onde visões fascinantes vos entretinham, e que
fazeis? Cantais "Grandola. Vila Morena". Mais ainda? Não chega? Não basta? Está
aí a terra prometida da fraternidade. Dentro do buraco, caras aves corredoras,
provavelmente avistáveis o próspero país dos cangurus, lá nos antípodas. Mas
aqui fora, à superfície, são trinta e tal anos de fraterndade grandula, ou seja,
prosperidade para alguns e a conta do regabofe para os outros todos. Tínhamos
ainda alguma esperança que despertásseis alterados, que a ave corredora desse
lugar ao homem firme. Que cantasseis o hino, as vezes que fossem precisas, bem
alto, até à rouquidão. Sempre o hino! Até que as palavras não fossem meras
palavras, mas convocatória aos vivos e aos mortos, ao passado e ao futuro, à
vida contra a morte, ao levantamente contra a submissão, à coragem contra o
medo, a Portugal, todo, inteiro, justo, para que se erga da lama e do lixo onde
foram despejá-lo, para que se levante da vala imunda onde o planeiam
sepultado!
Esta, parece-me, não é coisa nem ocasião de
somenos. É a ultima oportunidade que tendes, e a mais dramática, para lavardes a
honra da instituição militar, entretanto convertida em tapete de estrebaria, na
antecâmara de um albergue espanhol. O povo sempre foi capaz de sacrificar-se
para que o Pátria viva; o que não está disposto é a deixar-se enterrar junto com
ela. E é mil vezes preferível que as armas acudam ao povo antes que o povo se
veja obrigado a pegar em armas.
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